Um avanço histórico: regenerar o esmalte natural dos dentes
O esmalte dentário é o tecido mais duro do corpo humano — porém, uma vez danificado, ele não se regenera naturalmente. Isso significa que erosões, desgastes ou cáries comprometem permanentemente a proteção dos dentes. Até agora, os tratamentos se limitavam à prevenção ou à proteção temporária com flúor e resinas.
Mas cientistas da University of Nottingham, no Reino Unido, acabam de mudar esse paradigma. Eles criaram um gel biomimético que imita o processo natural de formação do esmalte, estimulando o crescimento de uma nova camada mineralizada que se integra perfeitamente à estrutura dentária original.
Como funciona o gel regenerador de esmalte dentário
O novo material é composto por uma matriz supramolecular de proteínas recombinantes chamadas ELRs (elastin-like recombinamers), inspiradas na amelogenina, proteína que orienta o crescimento do esmalte durante a infância.
Quando o gel é aplicado sobre o dente — seja em áreas com erosão, desmineralização ou até dentina exposta — ele forma uma camada fina e bioativa, capaz de atrair íons de cálcio e fosfato da saliva.
Esses minerais se organizam de maneira ordenada por um processo conhecido como mineralização epitaxial, recriando a arquitetura prismática e aprismática do esmalte natural.
“Nosso material promove o crescimento de cristais de forma integrada e organizada, recuperando a estrutura do esmalte saudável”, explica o pesquisador Dr. Abshar Hasan, autor principal do estudo publicado na revista Nature Communications (2025).
Resultados impressionantes: força, dureza e resistência
Os testes mostraram que o esmalte regenerado apresenta estrutura e propriedades muito próximas ao esmalte original:
- Dureza média: ~1,4 GPa (esmalte natural: 2,5–4 GPa)
- Espessura da camada: até 10 μm
- Resistência ao desgaste: alta mesmo após simulações de escovação, mastigação e exposição a ácidos
Em dentina exposta, o material formou uma camada semelhante ao esmalte aprismático, reduzindo a sensibilidade dentária e melhorando a adesão de restaurações.
Livre de flúor e com aplicação simples
Diferente dos tratamentos convencionais, o novo gel é totalmente livre de flúor.
Ele pode ser aplicado de forma rápida — semelhante a um verniz odontológico — e seca em poucos minutos, criando uma película protetora e regeneradora.
O professor Álvaro Mata, líder do projeto, destaca:
“Desenvolvemos a tecnologia pensando na aplicação clínica. É segura, escalável e poderá estar disponível em breve, através da startup Mintech-Bio.”
Impacto clínico e futuro da odontologia regenerativa
A perda do esmalte está diretamente ligada a cáries, hipersensibilidade e até perda dentária.
A possibilidade de restaurar o esmalte natural representa um marco na prevenção e tratamento odontológico — reduzindo custos, dor e procedimentos invasivos.
Além disso, a tecnologia poderá ser adaptada para múltiplos usos:
- Reforço de restaurações dentárias
- Redução da sensibilidade
- Proteção de superfícies radiculares expostas
- Rejuvenescimento estético do sorriso
Limitações e próximos passos
Por enquanto, os estudos foram realizados ex vivo (fora da boca) com dentes humanos extraídos.
Os pesquisadores agora planejam testes clínicos em pacientes para avaliar a durabilidade e eficácia a longo prazo, já que o esmalte natural pode chegar a mais de 2 mm de espessura em algumas regiões.
Ainda assim, os resultados obtidos são promissores e apontam para uma nova era na odontologia regenerativa — em que dentes poderão “auto-reconstruir” seu esmalte de forma natural e não invasiva.
Conclusão
O novo gel regenerador de esmalte não é apenas uma inovação científica — é um divisor de águas na odontologia moderna.
Ao combinar biotecnologia e bioengenharia de proteínas, ele promete transformar a forma como tratamos e prevenimos os problemas dentários.
Uma verdadeira revolução para profissionais e pacientes que sonham com dentes mais fortes, saudáveis e naturalmente restaurados.
Fonte científica
University of Nottingham – “New gel regrows tooth enamel and could transform dentistry”
Nature Communications (2025) – Biomimetic supramolecular protein matrix restores structure and properties of human dental enamel
